Logo
Artigos Científicos

DOENÇAS LISOSSOMAIS

Mucopolissacaridose tipo I

 

MPS I é uma doença autossômica recessiva, progressiva multisistêmica causada pela deficiência da enzima alfa-L-iduronidase (IDUA), essencial para a degradação do ácido alfa-L-idurônico, presente nos glicosaminoglicanos (GAG) heparan sulfato e dermatan sulfato. A MPS I pode ser classificada em três formas. A forma mais grave é chamada de Hurler e os sintomas iniciam no primeiro ano de vida, geralmente, com sintomas respiratórios e história de reparo de hérnia umbilical e inguinal. A aparência facial gradualmente é modificada, com aumento da circunferência craniana, bossa frontal, ponte nasal larga, achatamento de face média, engrossamento dos lábios e hipertricose. O comprometimento cognitivo é marcado, sendo óbvio até a idade de 18 meses, com neurodegeneração lenta. Há disostose múltipla, com comprometimento do crescimento, levando a baixa estatura. Os pacientes apresentam ainda cardiopatia, hepatoesplenomegalia e opacificação da córnea.  A forma intermediária é chamada de Hurler-Scheie, com vasta heterogeneidade fenotípica. Os sintomas se iniciam ao redor dos 2 anos, geralmente caracterizados por enrijecimento das articulações, sem evidência de inflamação. Disostose múltipla pode ser muito marcada levando a baixa estatura grave e problemas ortopédicos. O comprometimento cognitivo pode ser variável. A forma atenuada é chamada de Scheie e os pacientes podem apresentar baixa estatura, porém não tão marcada quanto a presente nas outras formas da doença. Apresentam rigidez articular, alteração nas válvulas cardíacas e opacificação da córnea. Não há comprometimento cognitivo e a expectativa de vida tende a ser normal. O diagnóstico bioquímico é realizado com a determinação do aumento de excreção de dermatan e heparan sulfato e deficiência de IDUA. O diagnóstico genético é realizado com o sequenciamento do gene IDUA eos pacientes com mutações sem sentido tendem a desenvolver doença mais grave. O tratamento preconizado para a forma grave da doença é o transplante de células tronco hematopoiéticas antes dos 2 anos de vida o que previne o desenvolvimento da doença neurológica. Para as outras formas, está indicado o tratamento com terapia de reposição enzimática.

 

Frequencia

Sinais e sintomas

Obrigatórios

----

Usualmente presentes

Cabeça e pescoço:Face grosseira (bossa frontal, ponte nasal larga, achatamento de face média, engrossamento dos lábios); infecção de vias aéreas superiores recorrente; otite média recorrente; escafocefalia;opacidade da córnea; baixa acuidade visual, hipermetropia, dentes espaçados, hiperplasia das cristas alveolares.

Osteoarticular:Restrição articular, cifose, disostose múltipla, baixa estatura, coxa valga, ausência de constrição diafisária em falanges média e proximal, sela túrcica em J.

Outros: hepatomegalia, hérnia umbilical,atraso de desenvolvimento*.

Podem estar presentes

Osteoarticular: displasia do odontóide, espondilolistese, geno valgo, displasia de quadril, protusão do esterno, deformidade em giba, micrognatia, braquicefalia, espessamento da calvária.

Neurológico: atraso do desenvolvimento da fala, hipertrofia da paquimeninge, estenose do canal espinhal, síndrome do túnel do carpo, hidrocefalia, hipotonia na infância, macrocerebelo, mega cisterna magna.

Outros: doença cardíaca valvular, cardiomiopatia, hérnia inguinal, esplenomegalia, apnéia do sono, deficiência auditiva, hipetricose, atrofia do disco óptico, atrofia do epitélio pigmentar da retina, macroglossia, mordida aberta anterior, atraso da erupção dentária, bruxismo, miopia, glaucoma, exotropia, esotropia, alteração do eletrorretinograma.

Ausentes

Mancha vermelho cereja na retina; angioqueratomas.

* Ausente nas formas Scheie e Hurler-Scheie.

 

Referências:
1. Beck M, Arn P, Giugliani R, Muenzer J, Okuyama T, Taylor J, et al. The natural history of MPS I: global perspectives from the MPS I Registry. Genetics in Medicine. 2014 Oct;16(10):759–65. 
2. Campos D, Monaga M. Mucopolysaccharidosis type I: current knowledge on its pathophysiological mechanisms. Metab Brain Dis. 2012;27(2):121-129.
3. Cimaz R, Vijay S, Haase C, et al. Attenuated type I mucopolysaccharidosis in the differential diagnosis of juvenile idiopathic arthritis: a series of 13 patients with Scheie syndrome. Clin Exp Rheumatol. 2006;24(2):196-202.
4. D'Aco K, Underhill L, Rangachari L, et al. Diagnosis and treatment trends in mucopolysaccharidosis I: findings from the MPS I Registry. European journal of pediatrics. 2012;171(6):911-919.
5. De Ru MH, Teunissen QG, van der Lee JH, Beck M, Bodamer OA, Clarke LA, et al. Capturing phenotypic heterogeneity in MPS I: results of an international consensus procedure. Orphanet Journal of Rare Diseases. 2012;7(1):22. 
6. Furukawa Y, Hamaguchi A, Nozaki I, Iizuka T, Sasagawa T, Shima Y, et al. Cervical pachymeningeal hypertrophy as the initial and cardinal manifestation of mucopolysaccharidosis type I in monozygotic twins with a novel mutation in the alpha-l-iduronidase gene. Journal of the Neurological Sciences. 2011 Mar;302(1-2):121–5. 
7. Gardner DG. The oral manifestations of Hurler’s syndrome. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology. 1971 Jul;32(1):46–57. 
8. Moore D, Connock MJ, Wraith E, Lavery C. The prevalence of and survival in Mucopolysaccharidosis I: Hurler, Hurler-Scheie and Scheie syndromes in the UK. Orphanet J Rare Dis. 2008;3:24-24.
9. Muñoz-Rojas MV, Bay L, Sanchez L, van Kuijck M, Ospina S, Cabello JF, et al. Clinical manifestations and treatment of mucopolysaccharidosis type I patients in Latin America as compared with the rest of the world. Journal of Inherited Metabolic Disease. 2011 Oct;34(5):1029–37. 
10. Taylor C, Brady P, O’Meara A, Moore D, Dowling F, Fogarty E. Mobility in Hurler syndrome. J Pediatr Orthop. 2008 Mar;28(2):163–8. 
11. Vijay S, Wraith J. Clinical presentation and follow-up of patients with the attenuated phenotype of mucopolysaccharidosis type I. Acta Paediatrica. 2005 Jul 1;94(7):872–7.

 

Mucopolissacaridose tipo II

 

Mucopolissacaridose tipo II (MPS II), também conhecida como Síndrome de Hunter, é uma doença progressiva multisistêmica, ligada ao cromossomo X, causada pela deficiência da enzima iduronato-2-sulfatase (I2S), causando acúmulo de dermatan e heparan sulfato. A grande maioria dos indivíduos afetados são do sexo masculino, com raras mulheres afetadas. Idade de início, gravidade e progressão dos sintomas variam entre os afetados. Nos indivíduos com início precoce dos sintomas e progressão rápida da doença, o sistema nervoso central (SNC) é envolvido, com progressiva deterioração cognitiva, doença respiratória e cardíaca progressivas, resultando em morte nas primeiras duas décadas de vida. Nos indivíduos com doença lentamente progressiva, o SNC, geralmente, não é acometido, embora o efeito do acúmulo dos GAGs nos demais órgãos e sistemas podem ser tão progressivos como nos indivíduos com envolvimento cognitivo. Outros achados em ambas as formas de MPS II incluem baixa estatura, macrocefalia com ou sem hidrocefalia comunicante, macroglossia, voz rouca, perda auditiva condutiva ou sensorineural, hepatoesplenomegalia, disostose múltipla, estenose espinal e síndrome do túnel do carpo.Diferentemente da MPS I, não há opacificação da córnea. O teste diagnóstico inicial é a dosagem de GAGs urinários, com determinação de excreção de dermatan e heparan sulfato, indistinguível de MPS I. O diagnóstico bioquímico é realizado através da análise da atividade da enzima I2S e o diagnóstico molecular através da análise do gene IDS. O tratamento é realizado com terapia de reposição enzimática.

 

Frequencia

Sinais e sintomas

Obrigatórios

---

Usualmente presentes

Cabeça e pescoço: Face grosseira (lábios grossos, dolicocefalia, cristas supraorbitais proeminentes; narinas antevertidas); dentição anormal; atraso de dentição; obstrução de vias aéreas; infecção de vias aéreas superiores recorrente; otite média recorrente.

Cardiovascular: Hipertrofia do ventrículo esquerdo; espessamento da valva mitral; insuficiência mitral; insuficiência aórtica;

Esqueléticos: Escoliose; deformidade torácica; disostose radio-humeral; Rigidez articular, artralgia; baixa estatura; mãos em garra.

Neurológicos: Regressão neurológica*; deficiência intelectual*; distúrbio comportamental (hiperatividade, obstinação, agressividade)*; atraso do desenvolvimento da fala; atraso do desenvolvimento motor; atrofia cortico-subcortical; aumento do espaço subaracnóide; aumento do volume ventricular supratentorial; EEG em sono com baixa amplitude e baixa voltagem; mega cisterna magna; aumento de espaços perivasculares; alteração de substância branca periventricular.

Outros: Dispneia; sibilância; Hepatomegalia, esplenomegalia; Hérnia umbilical; perda auditiva; apnéia do sono.

Podem estar presentes

Cabeça e pescoço:Macrocefalia; hipertrofia gengival; ptose palpebral; macroglossia.

Respiratório:Tosse crônica; pneumonia recorrente;  Doença pulmonar restritiva; traqueobroncomalácia; voz rouca**; estreitamento e espessamento da traquéia e brônquios principais**; colapso expiratório da traquéia**

Neurológicos: Reflexos tendinosos diminuídos; cisto de fossa posterior; atividade paroxística no eletroencefalograma; crises convulsivas; hidrocefalia; hipoplasia cerebelar; hipertrofia da meninge;síndrome do túnel do carpo**.

Cardiovascular: Distúrbios de condução cardíaca; insuficiência cardíaca congestiva; frequência cardíaca anormal; cardiomiopatia; hipertensão arterial sistêmica; espessamento da valva tricúspide; espessamento da valva pulmonar; insuficiência tricúspide; insuficiência pulmonar; estenose aórtica; estenose mitral; dilatação do ventrículo esquerdo; hipertensão pulmonar; doença arterial coronariana.

Outros:Hérnia inguinal, lesão de pele papular, cifose, atraso puberal, diarréia, retinite pigmentosa.

Ausentes

Mancha vermelho cereja na retina; angioqueratomas.

* Ausente em indivíduos com forma leve.** Usualmente presente em indivíduos adultos

 

Referências:
1. Alkhzouz C, Lazea C, Bucerzan S, Nascu I, Kiss E, Denes CL, et al. Clinical and Genetic Characteristics of Romanian Patients with Mucopolysaccharidosis Type II. In Berlin, Heidelberg: Springer Berlin Heidelberg; 2016 [cited 2016 Dec 19]. Available from: http://link.springer.com/10.1007/8904_2016_535
2. Alqahtani E, Huisman TAGM, Boltshauser E, Scheer I, Güngör T, Tekes A, et al. Mucopolysaccharidoses type I and II: New neuroimaging findings in the cerebellum. European Journal of Paediatric Neurology. 2014 Mar;18(2):211–7. 
3. Braunlin EA, Harmatz PR, Scarpa M, Furlanetto B, Kampmann C, Loehr JP, et al. Cardiac disease in patients with mucopolysaccharidosis: presentation, diagnosis and management. Journal of Inherited Metabolic Disease. 2011 Dec;34(6):1183–97. 
4. Cross EM, Hare DJ. Behavioural phenotypes of the mucopolysaccharide disorders: a systematic literature review of cognitive, motor, social, linguistic and behavioural presentation in the MPS disorders. Journal of Inherited Metabolic Disease. 2013 Mar;36(2):189–200. 
5. Finn CT, Vedolin L, Schwartz IV, Giugliani R, Haws CA, Prescot AP, et al. Magnetic resonance imaging findings in Hunter syndrome. Acta Paediatrica. 2008 Apr;97(s457):61–8. 
6. Holt J, Poe MD, Escolar ML. Early Clinical Markers of Central Nervous System Involvement in Mucopolysaccharidosis Type II.The Journal of Pediatrics. 2011 Aug;159(2):320–326.e2. 
7. Jiménez-Arredondo RE, Brambila-Tapia AJL, Mercado-Silva FM, Ortiz-Aranda M, Benites-Godinez V, Olmos-García-de-ALBA G, et al. Association between brain structural anomalies, electroencephalogram and history of seizures in Mucopolysaccharidosis type II (Hunter syndrome). Neurological Sciences [Internet]. 2016 Dec 2 [cited 2016 Dec 9]; Available from: http://link.springer.com/10.1007/s10072-016-2788-2
8. Kampmann C, Beck M, Morin I, Loehr JP. Prevalence and Characterization of Cardiac Involvement in Hunter Syndrome.The Journal of Pediatrics. 2011 Aug;159(2):327–331.e2. 
9. Morehead JM, Parsons DS. Tracheobronchomalacia in Hunter’s syndrome. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 1993 Apr;26(3):255–61. 
10. Rutten M, Ciet P, van den Biggelaar R, Oussoren E, Langendonk JG, van der Ploeg AT, et al. Severe tracheal and bronchial collapse in adults with type II mucopolysaccharidosis. Orphanet Journal of Rare Diseases [Internet]. 2016 Dec [cited 2016 Dec 19];11(1). Available from: http://ojrd.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13023-016-0425-z
11. Schwartz IVD, Ribeiro MG, Mota JG, Toralles MBP, Correia P, Horovitz D, et al. A clinical study of 77 patients with mucopolysaccharidosis type II. Acta Paediatr. 2007 Apr;96(455):63–70. 
12. Sohn YB, Choi EW, Kim SJ, Park SW, Kim S-H, Cho S-Y, et al. Retrospective analysis of the clinical manifestations and survival of Korean patients with mucopolysaccharidosis type II: Emphasis on the cardiovascular complication and mortality cases. American Journal of Medical Genetics Part A. 2012 Jan;158A(1):90–6. 
13. Suzuki Y, Aoyama A, Kato T, Shimozawa N, Orii T. Retinitis pigmentosa and mucopolysaccharidosis type II: an extremely attenuated phenotype. Journal of Inherited Metabolic Disease. 2009 Aug;32(4):582–3. 
14. Tuschl K, Gal A, Paschke E, Kircher S, Bodamer OA. Mucopolysaccharidosis type II in females: case report and review of literature. Pediatr Neurol. 2005;32(4):270-272.
15. Young ID, Harper PS, Archer IM, Newcombe RG. A clinical and genetic study of Hunter’s syndrome.1 Heterogeneity. Journal of Medical Genetics. 1982 Dec 1;19(6):401–7. 
16. Young ID, Harper PS, Newcombe RG, Archer IM. A clinical and genetic study of Hunter’s syndrome.2 Differences between the mild and severe forms.Journal of Medical Genetics.1982 Dec 1;19(6):408–11.

17. Young ID, Harper PS. Mild form of Hunter’s syndrome: clinical delineation based on 31 cases. Archives of Disease in Childhood. 1982 Nov 1;57(11):828–36.17.

 

Mucopolissacaridose tipo III (A, B, C, D)

 

A mucopolissacaridose tipo III é o tipo mais comum de MPS no mundo, embora no Brasil haja subdiagnóstico. MPS III inclui 4 subtipos, cada um devido à deficiência de uma enzima diferente: heparan N-sulfatase (tipo A), alfa-N-acetilglucosaminidase (tipo B), acetil-CoA:alfa-glucosaminide acetil transferase (tipo C) e N-acetilglucosamina 6-sulfatase (tipo D). Todos os tipos de MPS III são caracterizados pelo acúmulo de heparan sulfato, principalmente no sistema nervoso central, causando um fenótipo com grave doença neurológica e leve doença somática. Devido aos sintomas somáticos leves, o diagnóstico de MPS III é geralmente realizado mais tardiamente do que o diagnóstico das MPS I e MPS II. Os pacientes com MPS III apresentam sintomas a partir dos primeiros anos de vida como frequentes infecções respiratórias, perda auditiva e atraso da fala. O diagnóstico geralmente é suspeitado entre 3-5 anos, quando a maioria dos pacientes apresenta agressividade, hiperatividade e insônia. Posteriormente, os pacientes apresentam dificuldades na locomoção e deglutição, com expectativa de vida ao redor de 20 anos. O diagnóstico, como outros tipos de MPS baseia-se na detecção do aumento da excreção de GAGs específicos, no caso da MPS III, de heparan sulfato. O diagnóstico bioquímico é realizado com a análise das diferentes enzimas associadas aos subtipos de MPS III em leucócitos ou fibroblastos, assim como o diagnóstico genético baseia-se na análise dos genes  SGSH(tipo A), NAGLU (tipo B), HGSNAT (tipo C), GNS (tipo D). O tratamento para todos os subtipos de MPS III é paliativo, baseado nos sintomas, embora estejam em curso alguns ensaios clínicos para MPS IIIA e MPS IIIB.

 

Frequencia

Sinais e sintomas

Obrigatórios

Perda cognitiva progressiva; alterações comportamentais.

Usualmente presentes

Neurológicos e comportamentais: Atraso de desenvolvimento; atraso de fala; insônia; sonolência diurna; inquietação; desatenção;baixo controle de impulsos; agressividade;  comportamento auto-estimulatório; comportamento disruptivo; regressão neurológica.

Outros: Otite média recorrente; perda auditiva; face grosseira; hirsutismo; deterioração da função motora; diarréia recorrente; cifose, escoliose; hepatomegalia.

Podem estar presentes

Cabeça e pescoço:Macrocefalia, dentição anormal; obliteração do canal pulpar; atraso de erupção dentária; macroglossia; retinite pigmentosa.

Outros: Rigidez articular, disostose múltipla; deslocamento de quadrilmarcha atáxica; aumento de espaços perivasculares; aumento do volume ventricular; perda de volume de substância cinzenta; epilepsia; eisfagia;doença cardíaca valvar; cardiomiopatia; atraso de crescimento; osteonecrose da cabeça do fêmur; hérnia umbilical; hérnia inguinal

Ausentes

Mancha vermelho cereja na retina; angioqueratomas.

 

Referências:
1. Buhrman D, Thakkar K, Poe M, Escolar ML. Natural history of Sanfilippo syndrome type A. Journal of Inherited Metabolic Disease. 2014 May;37(3):431–7. 
2. Cross EM, Hare DJ. Behavioural phenotypes of the mucopolysaccharide disorders: a systematic literature review of cognitive, motor, social, linguistic and behavioural presentation in the MPS disorders. Journal of Inherited Metabolic Disease. 2013 Mar;36(2):189–200. 
3. Delgadillo V, O’Callaghan M del M, Gort L, Coll MJ, Pineda M. Natural history of Sanfilippo syndrome in Spain. Orphanet J Rare Dis. 2013 Dec 6;8:189. 
4. de Ruijter J, Maas M, Janssen A, Wijburg FA. High prevalence of femoral head necrosis in Mucopolysaccharidosis type III (Sanfilippo disease): A national, observational, cross-sectional study. Molecular Genetics and Metabolism. 2013 May;109(1):49–53. 
5. Emre S, Terzioglu M, Tokatli A, Coskun T, Ozalp I, Weber B, et al. Sanfilippo syndrome in Turkey: Identification of novel mutations in subtypes A and B. Human Mutation. 2002 Feb;19(2):184–5. 
6. Jones MZ, Alroy J, Rutledge JC, Taylor JW, Alvord EC, Toone J, et al. Human mucopolysaccharidosis IIID: clinical, biochemical, morphological and immunohistochemical characteristics. J Neuropathol Exp Neurol. 1997 Oct;56(10):1158–67. 
7. Kara S, Sherr EH, Barkovich AJ. Dilated Perivascular Spaces: An Informative Radiologic Finding in Sanfilippo Syndrome Type A. Pediatric Neurology. 2008 May;38(5):363–6. 
8. Mahon LV, Lomax M, Grant S, Cross E, Hare DJ, Wraith JE, et al. Assessment of Sleep in Children with Mucopolysaccharidosis Type III. Ginsberg SD, editor. PLoS ONE. 2014 Feb 4;9(2):e84128. 
9. Mellara T de S, Azevedo DT, Faria G, Nelson Filho P, Queiroz AM de, Brentegani LG. Dental Findings and Management in a Mucopolysaccharidosis Type IIIB Patient.J Dent Child (Chic). 2012 Dec;79(3):176–80. 
10. Meyer A, Kossow K, Gal A, et al. Scoring evaluation of the natural course of mucopolysaccharidosis type IIIA (Sanfilippo syndrome type A). Pediatrics.2007;120(5):1255-1261.
11. Ruijter GJG, Valstar MJ, van de Kamp JM, van der Helm RM, Durand S, van Diggelen OP, et al. Clinical and genetic spectrum of Sanfilippo type C (MPS IIIC) disease in The Netherlands. Molecular Genetics and Metabolism. 2008 Feb;93(2):104–11. 
12. Shapiro EG, Nestrasil I, Delaney KA, Rudser K, Kovac V, Nair N, et al. A Prospective Natural History Study of Mucopolysaccharidosis Type IIIA. The Journal of Pediatrics.2016 Mar;170:278–287.e4.
13. Valstar MJ, Bruggenwirth HT, Olmer R, et al. Mucopolysaccharidosis type IIIB may predominantly present with an attenuated clinical phenotype. Journal of inherited metabolic disease.2010;33(6):759-767
14. Valstar MJ, Bertoli-Avella AM, Wessels MW, et al. Mucopolysaccharidosis type IIID: 12 new patients and 15 novel mutations. Hum Mutat. 2010;31(5):E1348-1360

 

Mucopolissacaridose tipo IV (A, B)

 

A MPS IVA é causada pela deficiência da enzima N-acetilgalactosamina-6-sulfatase (GALNS) e a MPS IVB pela deficiência da enzima beta-galactosidase (GLB),  levando à falha na degradação e acúmulo dos GAGs queratan sulfato e condroitin-6-sulfato. O fenótipo é caracterizado por grave displasia esquelética, com baixa estatura e alterações das articulações, com degeneração precoce. O diagnóstico geralmente é suspeitado nos primeiros dois anos de vida, devido à deformidade tóraco-lombar e pectus carinatum. Os indivíduos apresentam alterações dentárias, perda auditiva, opacificação de córnea e lesão das valvas cardíacas. Em pacientes mais graves, há progressiva doença respiratória restritivam podendo levar à morte. O diagnóstico bioquímico é realizado através da dosagem urinária de GAGs e determinação do acúmulos dos GAGs específicos, além da análise da atividade das enzimas GALNS, para MPS IVA e GLB, para MPS IVB, em leucócitos ou fibroblastos. O diagnóstico genético é realizado através da análise dos genes  GALNS e GLB1. O tratamento para MPS IVA baseia-se na terapia de reposição enzimática e para MPS IVB não há tratamento específico.

 

Frequencia

Sinais e sintomas

Obrigatórios

Displasia esquelética; platispondilia

Usualmente presentes

Pectus carinatum; baixa estatura; geno valgo; pescoço curto; frouxidão articular; contraturas; dor articular; cifoescoliose; displasia do odontóide; lordose lombar; alteração da marcha; opacidade da córnea

Podem estar presentes

Vias aéreas: Estreitamento da traquéia; apnéia do sono; otite média recorrente; pneumonia recorrente; hipertrofia de adenoides; hipertrofia de tonsilas; hipertrofia de cordas vocais; macroglossia.

Outros: Instabilidade cervical; doença do disco vertebral; mielopatia cervical; compressão da medula cervical; compressão da medula toracolombar; perda auditiva; alterações dentárias; cor pulmonale; espessamento, insuficiência ou estenose de valvas mitral e aórtica; dilatação da raiz da aorta; hidropsia fetal.

Ausentes

Mancha vermelho cereja na retina; angioqueratomas.

 

Referências:
1. Caciotti A, Garman SC, Rivera-Colon Y, et al. GM1 gangliosidosis and Morquio B disease: an update on genetic alterations and clinical findings. Biochim Biophys Acta.2011;1812(7):782-790.
2. Elflein HM, Hofherr T, Berisha-Ramadani F, Weyer V, Lampe C, Beck M, et al. Measuring corneal clouding in patients suffering from mucopolysaccharidosis with the Pentacam densitometry programme. British Journal of Ophthalmology. 2013 Jul;97(7):829–33. 
3. Harmatz P, Mengel KE, Giugliani R, Valayannopoulos V, Lin S-P, Parini R, et al. The Morquio A Clinical Assessment Program: Baseline results illustrating progressive, multisystemic clinical impairments in Morquio A subjects. Molecular Genetics and Metabolism. 2013 May;109(1):54–61. 
4. Kampmann C, Abu-Tair T, Gökce S, Lampe C, Reinke J, Mengel E, et al. Heart and Cardiovascular Involvement in Patients with Mucopolysaccharidosis Type IVA (Morquio-A Syndrome). Jefferies JL, editor. PLOS ONE. 2016 Sep 9;11(9):e0162100%. 
5. Mayer FQ, Pereira Fdos S, Fensom AH, Slade C, Matte U, Giugliani R.New GLB1 mutation in siblings with Morquio type B disease presenting with mental regression.Molecular genetics and metabolism.2009;96(3):148.
6. Montaño AM, Tomatsu S, Gottesman GS, Smith M, Orii T. International Morquio A Registry: Clinical manifestation and natural course of Morquio A disease. Journal of Inherited Metabolic Disease. 2007 Apr;30(2):165–74.
7. Qi Y, Musson DG, Schweighardt B, et al. Pharmacokinetic and pharmacodynamic evaluation of elosulfase alfa, an enzyme replacement therapy in patients with Morquio A syndrome. Clinical pharmacokinetics.2014;53(12):1137-1147.
8. Tomatsu S, Montano AM, Nishioka T, et al. Mutation and polymorphism spectrum of the GALNS gene in mucopolysaccharidosis IVA (Morquio A). Hum Mutat. 2005;26(6):500-512.

 

Mucopolissacaridose tipo VI

 

A mucopolissacaridose tipo VI é causada pela deficiência da enzima lisossomal N-acetilgalactosamina-4-sulfatase, causando o acúmulo dos GAGs dermatan sulfato e condroitin-4-sulfato. A prevalência no Brasil é uma das maiores do mundo, especialmente devido a efeito fundador na região Nordeste do país. O fenótipo é muito heterogêneo, podendo ser grave ou rapidamente progressivo, e atenuado ou lentamente progressivo, porém muitos pacientes apresentam características clínicas entre os dois extremos fenotípicos. Os pacientes com a forma grave, geralmente, são diagnosticados nos primeiros três anos de vida, por apresentarem um fenótipo semelhante à MPS I, porém sem comprometimento cognitivo. O crescimento é extremamente restrito, com face infiltrada, obstrução de vias aéreas superiores, perda auditiva, opacificação da córnea, doença cardíaca e enrijecimento das articulações. Indivíduos com a forma atenuada,  podem ser assintomáticos, embora, geralmente, apresentem doença óssea e articular lentamente progressivas e lesão de valvas cardíacas tardiamente. O diagnóstico é baseado na quantificação dos GAGs urinários e determinação dos GAGs específicos. O diagnóstico bioquímico é realizado com a análise da atividade da enzima N-acetilgalactosamina-4-sulfatase em leucócitos ou fibroblastos. O diagnóstico genético é realizado a partir da análise do gene ARSB. O tratamento indicado é a terapia de reposição enzimática.

 

Frequencia

Sinais e sintomas

Obrigatórios

Rigidez articular

Usualmente presentes

Cabeça e pescoço: Face grosseira (sobrancelhas espessas, fronte proeminente; pálpebras infiltradas; ponte nasal baixa; ponta nasal larga; bochechas cheias; lábios grossos); dolicocefalia; opacidade corneana, baixa acuidade visual, Hipermetropia, macrocefalia; macroglossia; atraso de erupção dentária; otite média

Esqueléticos:geno valgo; pectus carinatum; dor articular; cifoescoliose; lordose lombar proeminente; displasia de quadril.

Outros: Baixa estatura; mãos em garra; pele espessa; hirsutismo; cabelosgrossos; hérnia umbilical; esplenomegalia; deficiência auditiva; pneumonia; apnéia do sono; espessamento de valvas cardíacas; regurgitação mitral; regurgitação tricúspide.

Podem estar presentes

Cabeça e pescoço: cáries dentárias; otorréia; glaucoma; abscesso dentário; sinusite; rinorréia; miopia, atrofia óptica, exotropia, esotropia, ERG com redução de ondas b adaptada ao escuro; estenose traqueal.

Neurológicos: Cistos aracnóides; aumento dos ventrículos laterais; hiperintensidade leve periventricular em T2/FLAIR; aumento de espaços periventriculares; mielopatia cervical; estenose do canal cervical.

Esqueléticos: fusão incompleta dos centros de ossificação de C2;
protusão de discos intervertebrais; espessamento da diploe;  instabilidade da coluna cervical; displasia do odontóide; sela túrcica em J;sela túrcica em ômega; alargamento da sínfise pubiana; achatamento da cabeça femoral; irregularidade do processo condilar da mandíbula; pescoço curto.

Cardíacos: regurgitação tricúspide; regurgitação pulmonar; estenose mitral; estenose aórtica; estenose pulmonar; distúrbios de condução; insuficiência cardíaca esquerda.

Outros:, doença pulmonar restritiva; hipertensão pulmonar;; hérnia inguinal; diarréia crônica; constipação crônica; síndrome do túnel do carpo; crises convulsivas.

Ausentes

Deficiência intelectual

 

Referências:
1. Ashworth JL, Biswas S, Wraith E, Lloyd IC. The ocular features of the mucopolysaccharidoses. Eye. 2006 May;20(5):553–63. 
2. Azevedo A, Schwartz I, Kalakun L, Brustolin S, Burin M, Beheregaray A, et al. Clinical and biochemical study of 28 patients with mucopolysaccharidosis type VI: Study of 28 patients with MPS VI. Clinical Genetics. 2004 Jun 25;66(3):208–13. 
3. Borlot F, Arantes PR, Quaio CR, da Silva Franco JF, Lourenço CM, Bertola DR, et al. New insights in mucopolysaccharidosis type VI: Neurological perspective. Brain and Development. 2014 Aug;36(7):585–92. 
4. Braunlin EA, Harmatz PR, Scarpa M, Furlanetto B, Kampmann C, Loehr JP, et al. Cardiac disease in patients with mucopolysaccharidosis: presentation, diagnosis and management. Journal of Inherited Metabolic Disease. 2011 Dec;34(6):1183–97. 
5. Cavaleiro RM dos S, Pinheiro M das GR, Pinheiro LR, Tuji FM, Feio P do SQ, de Souza ICN, et al. Dentomaxillofacial manifestations of mucopolysaccharidosis VI: clinical and imaging findings from two cases, with an emphasis on the temporomandibular joint. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology and Oral Radiology. 2013 Aug;116(2):e141–8. 
6. for the CSP Study Group, Hendriksz CJ, Giugliani R, Harmatz P, Lampe C, Martins AM, et al. Design, baseline characteristics, and early findings of the MPS VI (mucopolysaccharidosis VI) Clinical Surveillance Program (CSP). Journal of Inherited Metabolic Disease. 2013 Mar;36(2):373–84. 
7. Giugliani R, Harmatz P, Wraith JE. Management guidelines for mucopolysaccharidosis VI.Pediatrics.2007;120(2):405-418
8. Jurecka A, Zakharova E, Malinova V, Voskoboeva E, Tylki-Szyma?ska A. Attenuated osteoarticular phenotype of type VI mucopolysaccharidosis: a report of four patients and a review of the literature. Clinical Rheumatology. 2014 May;33(5):725–31.
9. Valayannopoulos V, Nicely H, Harmatz P, Turbeville S. Mucopolysaccharidosis VI. Orphanet J Rare Dis. 2010;5:5

 

Mucopolissacaridose tipo VII

 

A mucopolissacaridose tipo VII, ou síndrome de Sly, é causada pela deficiência da enzima beta-glucuronidase, o que leva ao acúmulo dos GAGs dermatan sulfato, heparan sulfato e condroitin-4,6-sulfato. A apresentação clínica mais comum é a hidropsia fetal não-imune e o diagnóstico deve ser considerado em famílias em que a hidropsia é um evento recorrente. Dentre os indivíduos que sobrevivem à gestação, os sintomas variam desde uma forma neonatal grave, com fenótipo semelhante à MPS I, com morte precoce até uma apresentação leve, sem envolvimento cognitivo e sobrevida longa. Outros sinais ou sintomas incluem disostose múltipla, hepatoesplenomegalia e face infiltrada. O diagnóstico é baseado na quantificação dos GAGs urinários e determinação dos GAGs específicos. O diagnóstico bioquímico é realizado com a análise da atividade da enzima beta-glucuronidase em leucócitos ou fibroblastos. O diagnóstico genético é realizado a partir da análise do gene GUSB. Uma enzima recombinante já está sendo testada em humanos, porém ainda não foi aprovada para uso comercial.

 

Frequencia

Sinais e sintomas

Obrigatórios

---

Usualmente presentes

hidropsia fetal; edema de extremidades ao nascimento; face grosseira; deficiência intelectual; hepatoesplenomegalia; disostose múltipla; neutrófilos com grânulos de Alder-Reilly

Podem estar presentes

Pescoço curto; opacidade da córnea; protusão do esterno
diastase do reto; hérnias; epilepsia; colestase neonatal; hipertensão arterial; luxação congênita de quadril; necrose da cabeça do fêmur; perda auditiva. hidrocefalia; coarctação da aorta; insuficiência aórtica; espessamento valvar; estenose aórtica; estenose de artérias coronárias.

Ausentes

Mancha vermelho cereja na fundoscopia; leucodistrofia.

 

Referências
1. Arash L, Karabul N, Whybra C, Kampmann C, Beck M, Mengel E. Mucopolysaccharidosis Type VII (Sly disease) survivors. Molecular Genetics and Metabolism. 2013 Feb;108(2):S20. 
2. Bernsen PL, Wevers RA, Gabreëls FJ, Lamers KJ, Sonnen AE, Stekhoven JH. Phenotypic expression in mucopolysaccharidosis VII.J Neurol Neurosurg Psychiatr. 1987 Jun;50(6):699–703. 
3. Den Hollander NS, Kleijer WJ, Schoonderwaldt EM, Los FJ, Wladimiroff JW, Niermeijer MF.In-utero diagnosis of mucopolysaccharidosis type VII in a fetus with an enlarged nuchal translucency.Ultrasound in Obstetrics and Gynecology. 2000 Jul;16(1):87–90. 
4. Gillett PM, Schreiber RA, Jevon GP, Israel DM, Warshawski T, Vallance H, et al. Mucopolysaccharidosis type VII (Sly syndrome) presenting as neonatal cholestasis with hepatosplenomegaly. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2001 Aug;33(2):216–20. 
5. Gniadek TJ, Singer N, Barker NJ, Spevak PJ, Crain BJ, Valle D, et al. Cardiovascular pathologies in mucopolysaccharidosis type VII (Sly Syndrome).Cardiovascular Pathology. 2015 Sep;24(5):322–6. 
6. Peterson L, Parkin J, Nelson A. Mucopolysaccharidosis Type VII: A Morphologic, Cytochemical, and Ultrastructural Study of the Blood and Bone Marrow. American Journal of Clinical Pathology. 1982 Oct 1;78(4):544–8. 
7. Schwartz I, Silva LR, Leistner S, Todeschini LA, Burin MG, Pina-Neto JM, et al. Mucopolysaccharidosis VII: clinical, biochemical and molecular investigation of a Brazilian family: Letter to the Editor. Clinical Genetics. 2003 Jul 10;64(2):172–5.
8. Venkat-Raman N, Sebire NJ, Murphy KW. Recurrent fetal hydrops due to mucopolysaccharidoses type VII. Fetal diagnosis and therapy. 2006;21(3):250-254

 

Mucolipidose tipo II

 

Mucolipidose tipo II (ML tipo II), também chamada de doença I-cell,  é causada pela deficiência da enzima N-acetilglucosaminil fosfotransferase, responsável pelo correto endereçamento de várias enzimas até o lissosomo. As características fenotípicas são semelhantes às de indivíduos com a forma grave de MPS I, porém com o aparecimento dos sintomas mais precoce. Os pacientes apresentam hipertrofia gengival, macroglossia, face infiltrada, hirsutismo, hérnias, disostose múltipla, hepatoesplenomegalia, opacificação da córnea, perda auditiva, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, sendo fatal nos primeiros anos de vida devido a complicações cardio-respiratórias. Do ponto de vista bioquímico, há aumento sérico de hidrolases lisossomais, com diminuição da concentração dessas enzimas em fibroblastos. O diagnóstico genético pode ser realizado com o sequenciamento do gene GNPTAB, que codifica as subunidades alfa e beta da N-acetilglucosaminil fosfotransferase. O tratamento é sintomático e suportivo.

 

Frequencia

Sinais e sintomas

Obrigatórios

Face grosseira (fronte proeminente; epicanto; ponte nasal plana; narinas antevertidas); baixa estatura; atraso de desenvolvimento; rigidez articular; evidência de hiperparatireoidismo

Usualmente presentes

Esqueléticos: Neoformação óssea periosteal, com formação de um "manto" em ossos tubulares longos no primeiro ano de vida; irregularidade dos metacarpos; corpos vertebrais curtos e arredondados; mãos em garra; giba; cifoescoliose; proeminência da sutura metópica;

Outros: Hipertrofia gengival;sopro cardíaco; hepatomegalia; incapacidade de marcha; ausência de desenvolvimento da fala; hipotonia; espessamento da pele; infecções de vias aéreas superiores recorrentes; pneumonia recorrente.

Podem estar presentes

Esplenomegalia; opacidade de córnea; deformidade torácica; deslocamento congênito do quadril; hérnia inguinal; hérnia umbilical; diastase de reto abdominal; insuficiência cardíaca congestiva; espessamento de valvas aórtica e mitral; macroglossia.

Ausentes

Espessamento da calvária

 

Referências
1. Cathey SS, Kudo M, Tiede S, et al. Molecular order in mucolipidosis II and III nomenclature. American journal of medical genetics. Part A. 2008;146A(4):512-513.
2. Cathey SS, Leroy JG, Wood T, Eaves K, Simensen RJ, Kudo M, et al. Phenotype and genotype in mucolipidoses II and III alpha/beta: a study of 61 probands. Journal of Medical Genetics. 2010 Jan 1;47(1):38–48. 
3. David-Vizcarra G, Briody J, Ault J, Fietz M, Fletcher J, Savarirayan R, et al. The natural history and osteodystrophy of mucolipidosis types II and III: Mucolipidosis in Australasia. Journal of Paediatrics and Child Health. 2010 Mar 29;46(6):316–22. 
4. Okada S, Owada M, Sakiyama T, Yutaka T, Ogawa M. I-cell disease: clinical studies of 21 Japanese cases. Clinical Genetics. 2008 Apr 23;28(3):207–15. 
5. Otomo T, Muramatsu T, Yorifuji T, Okuyama T, Nakabayashi H, Fukao T, et al. Mucolipidosis II and III alpha/beta: mutation analysis of 40 Japanese patients showed genotype–phenotype correlation. Journal of Human Genetics. 2009 Mar;54(3):145–51.

 

Mucolipidose tipo III

 

A mucolipidose tipo III (ML tipo III), também conhecida como Polidistrofia Pseudo-Hurler, é, assim como a ML tipo II, causada pela deficiência da enzima N-acetilglucosaminil fosfotransferase. Portanto, o diagnóstico bioquímico se dá da mesma forma, com a análise de hidrolases lisossomais no plasma e em fibroblastos. No entanto, tanto variantes no gene GNPTAB (que codifica as subunidades alfa e beta da proteína) como no gene GNPTG (que codifica a subunidade gama) podem causar ML tipo III. Os pacientes apresentam sintomas durante a infância, mais tardiamente que os pacientes com ML tipo II, caracterizados por parada do crescimento, rigidez das articulações e disostose múltipla. A infiltração da face é, geralmente, leve e a maioria dos pacientes são cognitivamente normais, ou apresentam leve retardo. A sobrevida é entre 30-50 anos e a principal causa de morte é a doença restritiva pulmonar em associação à lesões de valvas cardíacas. Displasia de quadril é uma importante causa de morbidade, sendo indicada colocação de próteses articulares. Geralmente, os pacientes com mutações em GNPTG apresentam fenótipo atenuado. Não há tratamento específico para ML tipo III.

 

Frequencia

Sinais e sintomas

Obrigatórios

Osteodistrofia progressiva; rigidez articular.

Usualmente presentes

Face grosseira; sopro cardíaco; espessamento de valvas cardíacas; atraso de desenvolvimento motor; síndrome do túnel do carpo; redução da densidade óssea; dificuldade de marcha; limitação da amplitude de movimento do ombro.

Podem estar presentes

Opacidade de córnea; glaucoma juvenil; miopia; otite média recorrente; deformidade torácica; contraturas articulares; displasia do quadril; hérnia inguinal; hérnia umbilical; hipetrofia gengival; dificuldade de fala;
hepatomegalia e/ou esplenomegalia.

Ausentes

Espessamento da calvária.

 

1. Cathey SS, Kudo M, Tiede S, et al. Molecular order in mucolipidosis II and III nomenclature. American journal of medical genetics. Part A. 2008;146A(4):512-513.
2. Cathey SS, Leroy JG, Wood T, Eaves K, Simensen RJ, Kudo M, et al. Phenotype and genotype in mucolipidoses II and III alpha/beta: a study of 61 probands. Journal of Medical Genetics. 2010 Jan 1;47(1):38–48. 
3. David-Vizcarra G, Briody J, Ault J, Fietz M, Fletcher J, Savarirayan R, et al. The natural history and osteodystrophy of mucolipidosis types II and III: Mucolipidosis in Australasia. Journal of Paediatrics and Child Health. 2010 Mar 29;46(6):316–22. 
4. Otomo T, Muramatsu T, Yorifuji T, Okuyama T, Nakabayashi H, Fukao T, et al. Mucolipidosis II and III alpha/beta: mutation analysis of 40 Japanese patients showed genotype–phenotype correlation. Journal of Human Genetics. 2009 Mar;54(3):145–51.

 

Tay-Sachs

 

A doença de Tay-Sachs é uma gangliosidose GM2, causada pela deficiência da enzima beta-hexosaminidase A, sendo pan-étnica, porém com uma alta prevalência na população de judeus Ashkenazi. Os primeiros sintomas aparecem entre 3 e 5 meses de vida, caracterizados por hipotonia e perda de marcos do desenvolvimento, com reflexos de sobresalto exacerbados, crises convulsivas, perda visual e presença de mancha vermelho-cereja vista na fundoscopia. A partir de 18 meses há aumento do perímetro cefálico, com postura de decerebração e completa irresponsividade no segundo ano de vida. A sobrevida média é de 2 a 5 anos, com a principal causa de morte sendo complicações respiratórias. Existe uma forma juvenil, caracterizada por início dos sintomas entre 2 e 10 anos, com ataxia, distonia, espasticidade, demência e epilepsia, com sobrevida até a segunda década e uma forma adulta, em que os pacientes podem ter inteligência normal e apresentar distonia, ataxia e alterações psiquiátricas. O diagnóstico bioquímico é realizado com a análise da atividade da enzima beta-hexosaminidase A em plasma, leucócitos ou fibroblastos. O diagnóstico genético é realizado com a análise do gene HEXA. Não há tratamento específico aprovado para doença de Tay-Sachs, embora estejam ocorrendo ensaios clínicos com chaperonas e estudos em modelo animal com terapia gênica, com resultados promissores.

 

Frequencia

Sinais e sintomas

Obrigatórios

Deterioração neurológica progressiva

Usualmente presentes

Regressão neurológica, atraso de desenvolvimento, deficiência intelectual, resposta de sobressalto exagerada, hipotonia muscular, epilepsia, mancha vermelho cereja na fundoscopia, atrofia óptica, espasticidade, hiperintensidade em T2 de gânglios basais, hipomielinização difusa*.

Podem estar presentes

Baixo ganho ponderal, distúrbios de sono, perda auditiva, irritabilidade, psicose,fasciculações, discinesia, ataxia**, disartria, disfagia, gagueira, atrofia cerebelar, macrocefalia, diarreia/constipação, contraturas de membros, incontinência (urinária ou fecal), alteração de substância branca subcortical, neuropatia.

Ausentes

Hepatoesplenomegalia; face grosseira; disostose múltipla; angioqueratomas.

* Ausente nas formas de início tardio. ** Nas formas de início tardio, é uma manifestação usualmente presente.

 

Referências
1. Bley AE, Giannikopoulos OA, Hayden D, Kubilus K, Tifft CJ, Eichler FS. Natural history of infantile G(M2) gangliosidosis. Pediatrics. 2011 Nov;128(5):e1233–1241. 
2. Clarke JT, Mahuran DJ, Sathe S, et al. An open-label Phase I/II clinical trial of pyrimethamine for the treatment of patients affected with chronic GM2 gangliosidosis (Tay-Sachs or Sandhoff variants). Molecular genetics and metabolism. 2011;102(1):6-12.
3. Maegawa GHB, Stockley T, Tropak M, Banwell B, Blaser S, Kok F, et al. The Natural History of Juvenile or Subacute GM2 Gangliosidosis: 21 New Cases and Literature Review of 134 Previously Reported. PEDIATRICS. 2006 Nov 1;118(5):e1550–e1562.
4. Mahuran DJ. Biochemical consequences of mutations causing the GM2 gangliosidoses.Biochim Biophys Acta.1999;1455(2-3):105-138.
5. Myerowitz R, Lawson D, Mizukami H, Mi Y, Tifft CJ, Proia RL. Molecular pathophysiology in Tay-Sachs and Sandhoff diseases as revealed by gene expression profiling.Human molecular genetics.2002;11(11):1343-1350
6. Nalini A, Christopher R. Cerebral glycolipidoses: clinical characteristics of 41 pediatric patients. J Child Neurol. 2004 Jun;19(6):447–52. 
7. Neudorfer O, Pastores GM, Zeng BJ, Gianutsos J, Zaroff CM, Kolodny EH. Late-onset Tay-Sachs disease: Phenotypic characterization and genotypic correlations in 21 affected patients. Genetics in Medicine. 2005 Feb;7(2):119–23. 
8. Scott SA, Edelmann L, Liu L, Luo M, Desnick RJ, Kornreich R. Experience with carrier screening and prenatal diagnosis for 16 Ashkenazi Jewish genetic diseases. Human mutation.2010;31(11):1240-1250
9. Shapiro BE, Natowicz MR. Late-onset Tay-Sachs disease presenting as a childhood stutter. J Neurol Neurosurg Psychiatr. 2009 Jan;80(1):94–5. 
10. Steenweg ME, Vanderver A, Blaser S, Bizzi A, de Koning TJ, Mancini GMS, et al. Magnetic resonance imaging pattern recognition in hypomyelinating disorders. Brain. 2010 Oct;133(10):2971–82.

 

Sandhoff

 

A doença de Sandhoff é uma gangliosidose GM2, causada pela deficiência das enzimas beta-hexosaminidase A e beta-hexosaminidase B. A apresentação clínica é semelhante à doença de Tay-Sachs, com formas infantil, juvenil e adulta. Sintomas psiquiátricos, como psicose são relativamente comuns na forma adulta. O diagnóstico bioquímico é realizado através da detecção de N-acetilglucosaminil sacarídeos na análise de oligossacarídeos urinários, além da detecção  da deficiência combinada das enzimas beta-hexosaminidase A e beta-hexosaminidase B em plasma, leucócitos ou fibroblastos. O diagnóstico genético é realizado com a análise do gene HEXB. O tratamento é sintomático e suportivo.

 

Frequencia

Sinais e sintomas

Obrigatórios

Deterioração neurológica progressiva

Usualmente presentes

Regressão neurológica, epilepsia, resposta de sobressalto exagerada, mancha vermelho cereja na fundoscopia

Podem estar presentes

Hepatomegalia, Linfócitos vacuolados, atrofia óptica, macrocefalia, perda auditiva, diarreia/constipação, baixo ganho ponderal, distúrbios de sono, disfagia, contraturas de membros, incontinência (urinária ou fecal), neuropatia, alteração de substância branca subcortical, atrofia cerebelar.

Ausentes

Hepatoesplenomegalia; face grosseira; disostose múltipla; angioqueratomas.

 

Referências
1. Clarke JT, Mahuran DJ, Sathe S, et al. An open-label Phase I/II clinical trial of pyrimethamine for the treatment of patients affected with chronic GM2 gangliosidosis (Tay-Sachs or Sandhoff variants). Molecular genetics and metabolism. 2011;102(1):6-12.
2. Maegawa GHB, Stockley T, Tropak M, Banwell B, Blaser S, Kok F, et al. The Natural History of Juvenile or Subacute GM2 Gangliosidosis: 21 New Cases and Literature Review of 134 Previously Reported. PEDIATRICS. 2006 Nov 1;118(5):e1550–62. 
3. Myerowitz R, Lawson D, Mizukami H, Mi Y, Tifft CJ, Proia RL. Molecular pathophysiology in Tay-Sachs and Sandhoff diseases as revealed by gene expression profiling.Human molecular genetics.2002;11(11):1343-1350
4. Nalini A, Christopher R. Cerebral glycolipidoses: clinical characteristics of 41 pediatric patients. J Child Neurol. 2004 Jun;19(6):447–52.

 

11.   Niemann-Pick tipo A/B

 

As doenças de Niemann-Pick tipo A e tipo B são doenças autossômicas recessivas, causadas pela deficiência da enzima esfingomielinase que leva ao acúmulo de esfingomielina nos lisossomos, especialmente de células do sistema reticulo-endotelial, alterando a aparência dos histiócitos, sendo esses chamados de células de Niemann-Pick ou células espumosas. O tipo A é a forma mais grave e é caracterizada por início dos sintomas nos primeiros meses de vida, com atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, hipotionia, neurodegeneração, hepatoesplenomegalia, dificuldade para se alimentar, vômitos recorrentes e constipação. A sobrevida média é de 3 anos, devido ao comprometimento neurológico importante. O tipo B é caracterizado por doença visceral, sem comprometimento neurológico. Os pacientes apresentam hepatoesplenomegalia e envolvimento pulmonar, caracterizado por infiltração alveolar. A sobrevida é até a fase adulta, tendo sido reportados pacientes com mais de 60 anos. O diagnóstico bioquímico é realizado através da análise da atividade da esfingomielinase em leucócitos ou fibroblastos. O diagnóstico genético é realizado com a análise do gene SMPD1. Não há tratamento específico aprovado para a doença de Niemann-Pick, porém já existem ensaios clínicos com esfingomielinase recombinante para a terapia de reposição enzimática para o tipo B.

 

Frequencia

Sinais e sintomas

Obrigatórios

---

Usualmente presentes

Plaquetopenia; hepatoesplenomegalia**; aumento de enzimas hepáticas; redução da difusão de monóxido de carbono; alterações intersticiais na imagem pulmonar; doença pulmonar restritiva; redução do HDL; aumento da quitotriosidase; baixo peso; baixa estatura

Podem estar presentes

Hematológicos: Anemia*; leucopenia; sangramento (epistaxe; hematoma subdural, hematêmese, hemoptise, hemotórax, menorragia);

Gastrointestinais e hepáticos: vômitos; diarreia; constipação; insuficiência hepática; hipertensão portal; varizes esofágicas; ascite; cirrose.

Cardiopulmonar: insuficiência aórtica; prolapso de valva mitral; pericardite; bradicardia; taquicardia episódica; hipertrofia do ventrículo esquerdo; doença coronariana; i

Resultado de Exames